sexta-feira, 24 de abril de 2015

IMIGRANTES AFRICANOS EM PORTUGAL QUEREM INTERVIR MAIS NOS ÓRGÃOS DE PODER

Parlamento português

Representantes das comunidades africanas em Portugal querem participar mais na tomada de decisões, tanto no Governo, como no Parlamento ou nos municípios. "Já está na altura", dizem.

A reivindicação não é de agora, mas continua atual. Apesar de alguns lugares conquistados no seio das estruturas do poder local, a visibilidade de representantes das comunidades oriundas dos países africanos de língua portuguesa é mínima.

Segundo Leno Fernandes, da Plataforma "Independência 40", é imperioso aproximar mais as associações.

Leno Fernandes, da Plataforma "Independência 40"

"Estamos em Portugal há vários anos. Já está na altura de termos pessoas que defendem os nossos interesses", diz Fernandes.

"Esse é um caminho que temos de percorrer. Faz todo o sentido que a comunidade de imigrantes esteja representada na tomada de decisões. Claro que isso também tem a ver com [o trabalho de] várias associações."

O dirigente associativo falou à DW África à margem da apresentação pública, esta semana, da Plataforma "Independência 40", que já congrega 25 associações de imigrantes. Uma delas é a Associação Caboverdeana de Lisboa (ACV). O presidente da associação, Mário de Carvalho, também defende uma maior representação dos imigrantes nos órgãos de poder.

"Dizem que nós não participamos e que, por isso, não somos representados". Nessa perspetiva, é preciso uma maior abertura da sociedade portuguesa - não só no plano político, diz: "Não faz sentido cingirmo-nos à representação política, porque temos outras representações: temos representações em termos culturais, de que ninguém quer falar, temos representações em termos de direito de manifestar."

Mário de Carvalho, da Associação Caboverdeana de Lisboa

Trabalho junto de partido

Entre outros aspetos, os líderes associativos da Plataforma querem perceber até que ponto os partidos políticos estão abertos a congregar elementos ligados às comunidades imigrantes. Trata-se de um objetivo a médio e longo prazo, uma vez que os imigrantes não se sentem representados nos lugares de decisão. Isso, segundo Leno Fernandes, implicará igualmente um amplo trabalho a fazer junto das formações partidárias.

Para Mário de Carvalho, é necessário desfazer os tabus e preconceitos em relação a esta matéria. "Nós podemos desconstruir esse mito à volta da representatividade. É a luta que vamos travar", diz.

Pedro Lomba, secretário de Estado adjunto, que tutela a área das migrações, diz que a questão da representatividade é uma matéria sensível, reconhecendo haver um défice de participação dos imigrantes a nível político e institucional.

Num encontro com as associações, na passada sexta-feira (17.04), na Associação Caboverdiana de Lisboa, o governante português sublinhou a necessidade de maior inclusão dos imigrantes, apontando que o Plano Estratégico do Governo visa a valorização das associações e dos jovens talentos das respetivas comunidades em diferentes áreas.

"Nós, no Plano Estratégico, aprovámos um eixo que, especificamente, respeitará o reforço da inclusão e integração dos novos cidadãos portugueses que, em razão da sua descendência, acederam à nacionalidade portuguesa a partir de 2007. Uma medida concreta que vamos [promover] é o reforço da participação política e cívica destes novos nacionais", afirmou Lomba.

Em alusão a estas e outras medidas da referida estratégia, o secretário de Estado adjunto desafiou o movimento associativo a ser mais interventivo em defesa dos seus direitos, de modo a inverter a tentativa de secundarização da importância que têm os imigrantes na sociedade portuguesa.




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