quarta-feira, 19 de agosto de 2015

«OPINIÃO»TRAIDORES DO POVO: MARCHANDO, MANCHANDO E COMPROMETENDO O FUTURO DOS JOVENS, DAS MULHERES E DAS CRIANÇAS GUINEENSES - SAMUEL ADELINO IÉ



A presente reflexão, que considero singela, baseia-se nos dois pontos que considero marcantes por marcaram a história do nosso país, Guiné-Bissau, desde o início da luta de libertação nacional, até à data presente. O primeiro, tendo em vista, a recente disputa política entre o Presidente da República, José Mário Vaz, e o Chefe de Governo, Domingos Simões Pereira, diz respeito à falta de diálogo político como elemento fundante de qualquer instituição estatal. O segundo tem a ver com os sucessivos erros na escolha de dirigentes, que sempre traíram os ideais do povo guineense na luta e em luta pela consolidação da democracia, ainda jovem, como forma de governo.

A Guiné-Bissau é um país que, desde a proclamação de sua independência de jugo colonial português, em 1974, o seu povo nunca conseguiu minimamente usufruir dos ideais que nortearam a independência almejada. Isso porque existe ainda, principalmente, na cabeça de dirigentes, a mentalidade negativa herdada do antigo sistema colonial, o que eu chamo aqui de "colonialismo guineense". Isto é, são os próprios filho da nossa “mama guiné" que mantém ou procuram manter todo povo sob dominação e exploração dos recursos existentes em seus benéficos ou em benefício de seus familiares e amigos. Esse problema, não é só guineense, claro, mas me parece que é muito mais presente na nossa Guiné-Bissau, hoje, do que acontece em outros lugares. 

A disputa política e a traição de dirigentes do PAIGC, que governaram o país, há mais de três décadas, teria conduzido o assassinato de Amílcar Cabral, cujo atores materiais, ouvimos falar, mais as “cabecilhas”, continuam no anonimato, apesar de recentes acusações, de caráter político e partidário.

A traição de dirigentes do PAIGC não ficou por aí. Em 14 de Novembro de 1980, mais uma vez, os dirigentes do partido entraram em disputa pelo controle de poder, que culminou em perseguições, pressões e assassinato de “camaradas” e dirigentes do partido. Aquilo que parecia ser uma disputa entre a elite guineense e cabo-verdiana, escondia, no fundo, ambições de poder. João Bernardo Vieira, combatente guineense e ex-presidente da Guiné-Bissau, ao destituir Luís Cabral, meo irmão de Amílcar Cabral, fez de tudo para manter a Guiné-Bissau sob a lógica do “colonialismo guineense”. 

Com todos esses acontecimentos, e demais outros, não citados, que marcaram a história política deste país, que nunca foram devidamente investigados ou sentenciados, Guiné-Bissau continua marchando, manchando e comprometendo o futuro do país, principalmente de jovens, de mulheres, de homens e crianças, que, para Amílcar Cabral, seriam alicerces principais no processo de reconstrução nacional, logo após a independência. 

O momento político em que nos encontramos, direta ou indiretamente, exige reflexão, ponderação e diálogo. Mas, dialogar com quem? Para quê? É impossível dialogar sem agenda nacional. Não se dialoga com agendas pessoais. Então, quem pode mediar esse diálogo? CPLP? UA? CEDEAO? ONU? 

Com esses parceiros, cada um defendendo seus interesses geoestratégicos, o diálogo não surtirá efeitos porque essas organizações estariam mais preocupadas em ganhar o dinheiro em nome da Guiné-Bissau, defendendo interesses particulares que não ajudariam a reconciliar o povo guineense. Basta ver a mediação de algumas personalidades estrangeiras nos últimos acontecimentos, embora tenha conseguido realizar eleições, na sequência de golpe de 12 de abril, fincou o pé para que o PAIGC, desgastado perante acusações de desvio de recursos, assumisse a governação, impondo um presidente que, até que se prove contrário, é acusado pela Procuradoria Geral da República de desvio de recurso público, milhões de dólares, negociado com o governo angolano.

Recentemente, o Ministério Público acusa de corruptos altos dirigentes do governo de Domingos Simões Pereira. Até que se prove contrário, o governo, na pessoa de Domingos, deveria, como funciona num Estado de Direito, demitir todos os dirigentes com processos judiciais pendentes no tribunal. Não foi isso que aconteceu, o chefe do executivo preferiu blindar os erguidos, revelando, assim, a conivência e o desrespeito ao sistema judicial, já bastante frágil e desacreditado, reforçando o “colonialismo guineense”. 

Algumas questões para reflexão:

Até quando continuaremos a manchar nosso país, comprometendo nosso futuro, elegendo, via eleição direta, esses políticos de meia tigela? 

Até quando, guineenses, continuaremos na instabilidade, derrubando governo ou armando contra futuro presidente, elegendo esses políticos?

Será que o diálogo é possível quando o interesse individual se sobrepõe o interesse nacional?

Dialogar com quem, já que o que está em causa é o dinheiro e o poder?

E o povo? Quem vai dialogar com a população, que não se confunde com interesses de líderes de organizações sociais em defesa de seus interesses? 

Até quando quadros, guineenses, nossos quadros qualificados continuarão relegados aos interesses partidários, elegendo essa dirigente, traidores?

Até quando nossos quadros, reconhecidos internacionalmente, continuarão ausentes na busca de soluções sustentáveis para nossa Guiné? Será que nossos quadros não têm solução para o país, será que só sabem trabalhar nas agências internacionais da ONU, pensando o mundo, e não nossa Guiné?

Que figuras vão assumir o governo, em caso de sua destituição? 

Como o PAIGC pretende criar consenso ameaçando a destituição do Presidente? É o PAIGC que elegeu o presidente, ou é o povo guineense?

E, em caso de destituição de presidente, fora do quadro legal, quem assumirá o país? Presidente do Parlamento?

E, em caso de destituição do primeiro ministro, quem aceitaria assumir um governo em um contexto político conturbado, não muito favorável?

Guiné-Bissau corre sérios riscos, como nunca, enquanto povo e sociedade. Caso os órgãos de soberania golpear a constituição e as regras da democracia, não iludamos, os militares vão intervir. Devemos dialogar, sim, mas dizendo a verdade, não criminalizando o governo e nem o presidente. O momento é de diálogo, e às questões acima, nos ajudam nesse caminho? 

Acarape -Ceará- Brasil, 10 de Agosto 2015

SAMUEL ADELINO IÉ (samueladelinodju@gmail.com)

Estudante de Bacharelado em Humanidades

Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira UNILAB.


Sem comentários:

Enviar um comentário