terça-feira, 22 de setembro de 2015

«OPINIÃO» GUINÉ-BISSAU, 42 ANOS DE INDEPENDÊNCIA: 'UM PAÍS EM BUSCA DE ESTABILIDADE POLÍTICA' - CALIDO MANGO


Proclama-se a República da Guiné-Bissau em 1974; muito antes os guineenses já tinham uma esperança a ser desfrutada baseada na ideia de ‘’Unidade, Luta e Progresso’’. Mas o verdadeiro significado disso ainda é desconhecido. O 24 de Setembro, que é o dia da Independência nacional, é sempre comemorado através de discursos, atividades festivas e produções de cartazes e camisolas; eu acho que muitos ainda não sabem qual é o verdadeiro sinônimo de independência e, para o que ela serve! Os políticos costumam fazer a sociedade guineense lembrar os valentes homens (antigos combatentes) que tombaram no processo de libertação nacional. Eles devem ser lembrados, mas o que os levou a entregar suas vidas para libertar a Guiné-Bissau? Isso deve ser pensado e valorizado. A nossa luta hoje em dia deve continuar a dignificar os grandes esforços feitos pelos gloriosos combatentes!

Hoje o país está sob nova situação de crise política, mas isso não é inédito na Guiné-Bissau, razão pela qual surgiram diversas opiniões: uns acham do que o motivo tem a ver com a Constituição, por ela ter concedido o poder de demissão de governo ao Presidente da República; outros atribuem o erro ao sistema semipresidencialista no país. Não há problema algum no semipresidencialismo; nesse sistema, nossos políticos eleitos pelo povo para assumir o destino do país não sabem executar as demandas da Constituição. Este país foi colocado várias vezes em situações nas quais não deveria estar; desde a Proclamação da Independência de nosso povo até hoje, todos os problemas pelos quais passou foram criados pelos próprios guineenses (políticos e militares); é muito importante salientar que os nossos problemas podem e devem ser resolvidos dentro do nosso país; isso poderá acontecer só quando colocarmos a honestidade, a dignidade, o limite dos poderes e, principalmente, o interesse da nação guineense acima dos nossos propósitos. 

Já estamos quase a completar 42 anos da Independência; seria melhor se essa data servisse de reflexão para os políticos tirarem as ilações de que a independência não ocorre só quando um país possui a sua própria Bandeira e o seu próprio Hino ou a sua própria administração, mas sim possui o respeito, a dignidade, educação, desenvolvimento, etc. Eu acredito que uma República independente é muito mais do que isso. A luta pela independência valerá sempre a pena porque foi feita para obter a liberdade de dignificar os filhos da pátria para que possam se sentir livres e ter progresso como qualquer povo do mundo. O povo guineense sempre vai às urnas quando é chamado para cumprir com os seus direitos cívicos; mas os políticos não fazem o que sempre é esperado pelo povo.

A Guiné-Bissau passou por vários momentos de crise político-militar desde década de 1980; o país foi feito campo de interesses pessoais e familiares que culminaram com morte e ódio (Golpe de 14 de novembro e Caso de 17 de Outubro); contudo, chegou o momento de abertura política com a realização das eleições gerais e multipartidárias, das quais foram vencedores o General João Bernardo Vieira (Nino), como Presidente da República, e o Sr. Manuel Saturnino Costa, como Primeiro Ministro, ambos do PAIGC. Houve a primeira manobra política da Presidência para a Primatura, pois o presidente Vieira demorou dois meses para nomear o Saturnino; anos depois o governo de Saturnino foi demitido e houve a primeira nomeação de Carlos Correia na Primatura guineense.

No dia 07 de junho de 1998, o país entrou num clima de caos, implementado pelos poderes político e militar, durante 11 meses; foi um conflito que marcou a sociedade guineense de uma forma muito negativa, desacreditou o país dos parceiros internacionais, além das perdas humanas, desestabilização social e muito mais...

O começo dos anos 2000 foi visto com grande esperança pelos guineenses. O país viraria a página rumo ao desenvolvimento econômico e social; realizaram-se as eleições que conduziram ao poder o Dr. Kumba Yalá. Anos depois, a República da Guiné-Bissau chegou de novo a ser destaque na mídia nacional e internacional com a destituição do presidente Yalá pelo então general Veríssimo Correia Seabra; depois de sucessivas demissões de governos, a Guiné-Bissau voltou a ter período de transição pelo dito governo de ‘’unidade nacional’’, mas a verdade é que as pessoas que assumiram o país ao longo dos anos não estão preparadas politicamente para ser os governantes. Um país como a Guiné-Bissau não deve ser subjugado.

Esta nação foi alvo de desentendimentos político-militares ao longo da sua história até o 12 de abril que culminou com saída de Carlos Gomes Júnior. Podemos chegar à conclusão, por meio de uma simples análise: todos esses problemas acima referidos são questões internas e deveriam ser internamente resolvidas sem que haja pânico que possa alarmar a população e comunidade internacional; existem várias vias que podem ser adotadas para resolver qualquer que seja o problema, sem violência nem crise. O diálogo deve permanecer como a melhor ferramenta para qualquer ameaça na Guiné.

Os problemas da Guiné são criados pelos próprios políticos guineenses, sem necessidade; a nação pertence a todos os guineenses e merece ajuda de todos, de forma legal e democrática, baseada nos princípios positivos da política. Devemos salvaguardar a dignidade nacional para que todos possam sair vitoriosos; cada cidadão desta pátria é responsável pelo seu ato e tem responsabilidade com este país. Temos que acreditar que este país vai dar voltas positivas e servir de exemplo para a África e para o mundo; mas, para isso acontecer, a vontade e a determinação devem partir dos próprios guineenses. Quase todos os grandes países africanos que servem de exemplo passaram por problemas políticos. Podemos sim, acreditar que a Guiné-Bissau irá sair destas dificuldades momentâneas.

Espero que haja consenso entre os políticos e que cada um pense no bem-estar da nação guineense, e que DEUS abençoe a Guiné-Bissau e o seu povo.


Por, Calido Mango, estudante de Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Federal) no Brasil.

E-mail: oficialmango1@gmail.com 


São Francisco do Conde, Bahia-Brasil, 14/09/2015

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