segunda-feira, 19 de outubro de 2015

UM EXCELENTE TRABALHO DO JORNALISTA GUINEENSE MUNIRO CONTÉ A LER


Crónica dos 60 dias sem Governo

ESTAMOS A RECOMEÇAR !!!

Recomeçar é uma expressão ou vocábulo para transmitir a ideia de termos partido de um ponto para uma meta. Termos interrompido um percurso a meio do caminho ou antes de atingirmos o desiderato. O destino. É uma sensação que muita das vezes não gostamos experimentar, Sobretudo quando não existem razões óbvias para recomeçar. Por exemplo, quando estamos perante a descontinuidade de um programa ou de um projeto. Iniciado com paixão, vontade, determinação e devoção.

Na Guiné-Bissau, como que infernizados pelo demónio, recomeçar está cada dia a ter lugar cativo, com o agravante de ser subsequente a guerras ou disputas para assumir as rédeas do poder. Quer por golpes de Estado. Quer por golpes palacianos, com arranjos atípicos de chegar ao poder sem o termos conquistado nas urnas. E assim vamos! De recomeçar em recomeçar, com o país a fazer marcha atrás ou marcar passo. Quando os vizinhos e irmãos da sub-região, colocam os problemas e interesses pessoais de lado para valorizar o que é comum. O que é de todos. Os interesses de um povo que pretende erguer uma nação. Há 2 meses voltamos a provocar mais uma ruptura, num percurso que, não sendo perfeito ou arrojado, não era nada mau. Sobretudo para um país que saíra da transição, com todas as vicissitudes dele decorrente. Os salários estavam em dia. A situação energética praticamente regularizada. A campanha de Castanha de Cajú a atingir resultados inéditos. O Ano Lectivo a chegar ao fim e sem interrupções. O ebola controlado, apesar do espectro que veio dos vizinhos Senegal e Guiné-Conakry. O corte desenfreado dos troncos estancado. E, por arrastão, a Guiné-Bissau na orbita da Comunidade Internacional. Expressa nos relatórios e avaliações positivas do FMI, UEMOA, Amnistia Internacional, etc. Ato contínuo fomos elegíveis aos fundos dos doadores internacionais, com a garantia de um desembolso de cerca de 1 bilhão e meio de dólares.

Quando o futuro augurava melhores dias, com renascer da esperança nos olhos dos guineenses, eis que voltamos a dar um salto no escuro. Um tiro nos pés. Para, como tem sido o nosso apanágio, recomeçarmos. De nada valeram os apelos da Comunidade Internacional. O Conselho dos Régulos. As manifestações da Sociedade Civil a favor das realizações positivas do Governo. A moção de confiança da ANP, com vincados reconhecimentos e gratidão dos líderes das bancadas dos partidos com acento parlamentar. Nada mesmo poderia adiar a queda de um Governo que estava nas cogitações da maioria. O plano de derrube tinha que ser levado a cabo. Para voltarmos a recomeçar ! E recomeçar, após 2 meses de bloqueio político e paralisia institucional, com todas as suas consequências. Na economia do país. Na imagem da Guiné-Bissau e dos seus mais altos dignitários. No futuro dessa geração recorrentemente sacrificada e penalizada. Temos que começar tudo de novo: Para convencer os doadores a abrirem cordões a bolsa. Para sermos submetidos a novos exames do FMI. Para reiniciarmos um novo namoro ou as pazes com os potenciais financiadores da Guiné-Bissau que tinham sido afugentados com as crises cíclicas. Casos dos Estados Unidos, Suécia e alguns países do Ocidente.

É verdade que a culpa jamais morreu solteira. Mas nesse nosso raciocínio, não vamos invocar os culpados. O nosso repto vai no sentido de cada um refletir, fazer juízos… e tirar as devidas conclusões. Numa coisa estamos conversados: Ao fim de 2 meses de mais uma guerra para controlar ou assaltar o poder, TODOS SAÍMOS A PERDER. E, POR ISSO MESMO, ESTAMOS A RECOMEÇAR. ATÉ QUANDO NÃO SE SABE. A VER VAMOS?

* Esta crónica foi divulgada no bloco de notícias da RDN, no dia 18 de outubro.

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