segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

ANGOLA VÊ COMO "OFENSA" ATITUDE DE PORTUGAL


O presidente angolano alegou aguardar pelo cumprimento da promessa do seu antecessor, e ainda presidente do partido, em deixar este ano a política activa. João Lourenço, em conferência de imprensa, considerou como uma "ofensa" a recusa portuguesa em transferir para a justiça angolano o processo sobre o antigo vice-presidente Manuel Vicente.

Relacionamento normal com José Eduardo dos Santos

"O Presidente José Eduardo dos Santos disse que saía da vida política em 2018, Só a ele compete dizer se o fará, se vai cumprir com esse compromisso. Quando isso vai acontecer, só a ele compete dizer; ", disse o Presidente da República, que falava nos jardins do Palácio Presidencial, em Luanda, na sua primeira conferência de imprensa com mais de uma centena de jornalistas de órgãos nacionais e estrangeiros, quando passam 100 dias após ter chegado à liderança do Governo.

Questionado sobre a alegada tensão que mantém com o presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder em Angola desde 1975, e ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, o Presidente negou qualquer problema: "Não sinto essa crispação nas nossas relações, porque o Presidente do Partido é orientado pelo Estatuto do Partido, e Eu enquanto Presidente da Republica procuro cumprir e seguir a Constituiçao da Republica e demais leis", afirmou João Lourenço.

Acrescentou que “mantém relações normais de trabalho" com o presidente do partido, negando qualquer bicefalia na governação em Angola, até porque "nada está acima da Constituição", ambos trabalhando em "campos distintos" e com "cada um a cumprir o seu papel".

"Oito dias [dias do mês de Janeiro] não é nada. Vamos aguardar os próximos tempos", argumentou, sobre o anúncio feito em 2016 por José Eduardo dos Santos, que disse abandonar a vida política em 2018.

João Lourenço: É uma "ofensa" a forma como Portugal lidou com o caso de Manuel Vicente

O Presidente angolano avisou que as relações com Portugal vão "depender muito" da resolução do caso em torno do ex-vice-Presidente, Manuel Vicente, com João Lourenço a classificar a atitude da Justiça portuguesa como "uma ofensa" para Angola.

"Nós não estamos a pedir que ele seja absolvido, que o processo seja arquivado, nós não somos juízes, não temos competência para dizer se o engenheiro Manuel Vicente cometeu ou não cometeu o crime de que é acusado. Isso que fique bem claro", João Lourenço reafirmou a pretensão de o caso do ex-vice-Presidente ser julgado em Luanda, ao abrigo dos acordos judiciários entre os dois países da CPLP.

"Lamentavelmente Portugal não satisfez o nosso pedido, alegando que não confia na Justiça angolana. Nós consideramos isso uma ofensa, não aceitamos esse tipo de tratamento e por essa razão mantemos a nossa posição", enfatizou João Lourenço.

Mas, realçou, "a intenção não é livrar o engenheiro Manuel Vicente da acusação, Mas que isso seja feito aqui, pela Justiça angolana, em Angola”, afirmou, salientando que o Governo angolano “não tem pressa” na resolução deste processo. "A bola não está do nosso lado, está do lado de Portugal”.

Exonerações na Sonangol

Exoneração do Conselho de Administração da Sonangol "foi por conveniência de serviço", diz João Lourenço.

"Não me recordo do Presidente da República, alguma vez, no passado, ter de justificar exonerações", lembrou.

Já quanto ao fim do contrato entre a TPA e as empresas Semba Comunicação e Westside, o PR disse apenas que o seu dever "é o de proteger o Estado e os angolanos", justificando que "os termos do contrato eram muito lesivos dos interesses do Estado".

Corrupção

Sobre as questões da corrupção, João Lourenço reafirmou que o combate deve incidir sobre a "impunidade" que catalogou como a grande responsável pela forma "generalizada como a corrupção existe" em Angola.

O Presidente da República afirmou mesmo que a corrupção existe em Angola "desde quem pede gasosa na rua até aos cargos mais altos no Estado" e que o sucesso do seu combate depende da eficácia com que se combater a impunidade.

"Se quem mostra sinais muito evidentes de ter sido corrompido não é punido, os outros vão pensar que também podem entrar nessa situação", notou.

O Chefe de Estado referiu-se ainda à questão dos salários na função pública, defendendo que estes devem ser aumentados tão logo que a economia do país o permita, sublinhando que "ainda não existem condições" para o fazer.

Mas admitiu que se pode "pagar melhor se se pagar a menos gente", apontando o facto de que o Estado emprega hoje mais pessoas do que necessita, admitindo que deve ser equacionada a redução do pessoal na função pública.

Todavia, essa possibilidade deve ter em conta algumas questões essenciais, como, por exemplo, a incapacidade ainda existente do tecido económico angolano para absorver esses excedentes de pessoal que possa abandonar a função pública.

João Lourenço admitiu mesmo que se esses cuidados não existirem, o excesso de desemprego pode mesmo conduzir a "convulsões sociais", o que deve ser evitado.

A ligação entre os baixos salários e a forma como as pessoas se deixam corromper não mereceu do Presidente uma concordância clara, defendendo antes que se fosse verdade que só as pessoas que auferem baixos salários é que se deixam corromper, então estar-se-ia a dizer que quem tem grandes salários não entra em esquemas de corrupção, apontando que "isso não é verdade", tendo lembrado que a corrupção está presente em toda a sociedade angolana e que, reafirmou, "só a eficácia do combate à impunidade é que pode permitir o sucesso da luta contra a corrupção".

Fundo Soberano

O Presidente da República, João Lourenço, afirmou, estar a analisar as medidas propostas pelo Ministério das Finanças relativas ao Fundo Soberano Soberano de Angola, que poderão ser implementadas nos próximos dias.

Ao falar em conferência de imprensa aos jornalistas nacionais e estrangeiros, o Presidente explicou que foi contratada uma empresa idónea no sentido de realizar um diagnóstico às contas do Fundo Soberano e na sequência do trabalho desta empresa, o Ministério da Finanças apresentou uma proposta de medidas a tomar no sentido do Governo passar a ter um controlo mais efectivo dos dinheiros postos à disposição do Fundo.

Entretanto, João Lourenço sublinhou que a exoneração da actual administração do Fundo Soberano pode vir a acontecer. "Em relação ao Fundo Soberano, eu não diria que vou exonerar, mas pode vir acontecer", afirmou.

O Fundo Soberano de Angola foi criado em 2012, com uma dotação inicial de cinco biliões de dólares norte-americanos.

Em finais de 2017, foram postas a circular, na imprensa estrangeira, denúncias sobre eventuais irregularidades na gestão do Fundo Soberano de Angola, por via de documentos revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação.

Na senda desses documentos, inseridos na Investigação "Paradise Papers", o jornal suíço 24 Heures denunciou, numa reportagem, uma suposta participação de Jean-Claude Bastos de Morais, cidadãos suíço-angolano, na gestão do Fundo Soberano de Angola.

Àquele cidadão, segundo as denúncias, teriam sido atribuídos mais de 41 milhões de dólares.

Em resposta, a instituição angolana referiu, no seu site, que a carteira de investimento está "amplamente diversificada em termos de classes de activos, indústrias e geografias".

Precisou que, seguindo a política de investimento decretada pelo Executivo, aplica mais de um terço da carteira de investimento em valores imobiliários, como títulos do tesouro, as obrigações de cotação elevada, as acções listadas em bolsa de valores, os derivados, as estratégias de cobertura financeira e divisas, para preservar capital.

O Fundo Soberano de Angola referiu ainda que os restantes dois terços da carteira de investimento estão dedicados à actividade de “private equity” nos mercados emergentes e de fronteira, para a geração de receitas elevadas a longo prazo.

Contrato com a Semba Comunicação era lesivo para o Estado

A rescisão do contrato entre a TPA e a Semba Comunicação ocorreu porque os seus termos lesavam os interesses do Estado Angolano, afirmou nesta segunda-feira, o Presidente da República, João Lourenço.

Em resposta a uma questão que lhe foi colocada sobre se a medida visava atingir os filhos do antigo Presidente da República, o Titutar do Poder Executivo deixou claro que " nós não perseguimos pessoas.Quem reiscindiu o contrato foi a TPA e não o Presidente da República", clarificou.

Para João Lourenço, o contrato era desfavorável ao Estado e foi assinado numa conjuntura que é hoje totalmente diferente.

Com a colaboração de Daniel Frederico em Luanda.

Conosaba/RFI


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